domingo, 22 de abril de 2012

Coisas que já aprendi com meu iPad

Coisas que já aprendi com meu iPad


Estamos em plena Idade Mídia. E os fins da educação exigem novos meios. Ou será o fim da educação! Não tenhamos receio: o essencial não está nos instrumentos, mas em quem os utiliza.
Não precisamos descartar as coisas antigas, as tradições, as relíquias. Não precisamos caluniar o passado. O iPad não nos pede isso. Há quem goste de usar o giz em sala de aula, por exemplo, como sinal de resistência. E repete, recorrendo a palavras da liturgia da Quaresma: “do pó de giz eu vim... e ao pó de giz eu voltarei!”. Ou, com ares homeopáticos, afirma que tinha alergia ao giz, mas se curou com o próprio pó!
O iPad é um meio, algo que me permite alcançar várias finalidades. Aprender e ensinar são duas delas. Com esses fins em mente, comprei o iPad. “Cada dia sem iPad é um dia a menos de aprendizado”, disse eu a mim mesmo, querendo convencer-me de que não era despesa de consumista, mas investimento educacional.
A primeira coisa que aprendi com o iPad é que ainda sou analfabeto digital. Atualizar-se é ter a humildade de perguntar a alguém, ler um manual, pedir explicação aos outros. E colocar o dedo na tela. Esta, aliás, foi a segunda coisa que aprendi: o toque ligeiro. Quem um dia datilografou em máquinas mecânicas sabe quão sutil é o tanger que o iPad espera.
Fui ao iPad como quem vai com sede ao pote. Sede de entender o que po­de um iPad que um computador qualquer não possa. O que dá a esse meio uma importância especial?
O iPad parece um livro. E nele posso carregar milhares de livros. Já incluí, por exemplo, um livro de pensamentos de Leonardo da Vinci. Que ficaria enlouquecido com um aparelho desses entre seus dedos curiosos e inventivos. Se é que não o previu em sonhos futuristas.
Ler no iPad, e ver também. Ver as imagens nítidas, a ótima resolução, o colorido. E ouvir no iPad. Só não há como cheirar. O iPad não fede nem cheira como os livros do sebo (o viciante cheiro do uso), ou como os livros recém-lançados, aquele cheiro do novo em folha, capa e tinta.
Levo meu leve iPad para cima e para baixo, dentro do avião, entre nuvens reais e virtuais, ou no metrô subterrâneo. Aliás, nele sou conduzido e induzido a baixar/comprar aplicativos. Fui aluno aplicado outrora, mas nunca vi tantos aplicativos numa hora! E é só o começo.
Estou aprendendo com o iPad a me desbloquear. Todos os dias.
Mas não sou eu o único aluno do iPad. Meus alunos também são seus alunos! O que poderão fazer no iPad, no dia em que cada um tiver um à sua mão? O ideal seria colocar todo o material da mochila num tablet. Todas as bibliotecas, videotecas, fonotecas, grafotecas, mapotecas, sonotecas, midiatecas, hemerotecas, iconotecas dentro do iPad. A vida lá dentro, como outrora fizemos com a parede da caverna, o afresco da igreja, a tela da TV.
Para só mencionar uma inovação: provas-games. O jogo da química. O jogo da gramática. O jogo da filosofia. O jogo da física. O jogo da história. O jogador joga para aprender. Aprendendo, ganha pontos. E os pontos se traduzirão em prestígio virtual e poder de criação. Com os pontos adquiridos, o aluno pode criar um perfil escolar/profissional, seu currículo imediato, em articulação com futuras vagas em universidades, centros de pesquisa, postos de trabalho. Gabriel Perissé
Artigo publicado na edição de outubro de 2011 da revista Profissão Mestre.

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