Coisas que já aprendi com meu iPad
Estamos em plena Idade Mídia. E os fins da educação exigem novos meios.
Ou será o fim da educação! Não tenhamos receio: o essencial não está nos
instrumentos, mas em quem os utiliza.
Não precisamos descartar as coisas antigas, as tradições, as relíquias.
Não precisamos caluniar o passado. O iPad não nos pede isso. Há quem
goste de usar o giz em sala de aula, por exemplo, como sinal de
resistência. E repete, recorrendo a palavras da liturgia da Quaresma:
“do pó de giz eu vim... e ao pó de giz eu voltarei!”. Ou, com ares
homeopáticos, afirma que tinha alergia ao giz, mas se curou com o
próprio pó!
O iPad é um meio, algo que me permite alcançar várias finalidades.
Aprender e ensinar são duas delas. Com esses fins em mente, comprei o
iPad. “Cada dia sem iPad é um dia a menos de aprendizado”, disse eu a
mim mesmo, querendo convencer-me de que não era despesa de consumista,
mas investimento educacional.
A primeira coisa que aprendi com o iPad é que ainda sou analfabeto
digital. Atualizar-se é ter a humildade de perguntar a alguém, ler um
manual, pedir explicação aos outros. E colocar o dedo na tela. Esta,
aliás, foi a segunda coisa que aprendi: o toque ligeiro. Quem um dia
datilografou em máquinas mecânicas sabe quão sutil é o tanger que o iPad
espera.
Fui ao iPad como quem vai com sede ao pote. Sede de entender o que pode
um iPad que um computador qualquer não possa. O que dá a esse meio uma
importância especial?
O iPad parece um livro. E nele posso carregar milhares de livros. Já
incluí, por exemplo, um livro de pensamentos de Leonardo da Vinci. Que
ficaria enlouquecido com um aparelho desses entre seus dedos curiosos e
inventivos. Se é que não o previu em sonhos futuristas.
Ler no iPad, e ver também. Ver as imagens nítidas, a ótima resolução, o
colorido. E ouvir no iPad. Só não há como cheirar. O iPad não fede nem
cheira como os livros do sebo (o viciante cheiro do uso), ou como os
livros recém-lançados, aquele cheiro do novo em folha, capa e tinta.
Levo meu leve iPad para cima e para baixo, dentro do avião, entre nuvens
reais e virtuais, ou no metrô subterrâneo. Aliás, nele sou conduzido e
induzido a baixar/comprar aplicativos. Fui aluno aplicado outrora, mas
nunca vi tantos aplicativos numa hora! E é só o começo.
Estou aprendendo com o iPad a me desbloquear. Todos os dias.
Mas não sou eu o único aluno do iPad. Meus alunos também são seus
alunos! O que poderão fazer no iPad, no dia em que cada um tiver um à
sua mão? O ideal seria colocar todo o material da mochila num tablet.
Todas as bibliotecas, videotecas, fonotecas, grafotecas, mapotecas,
sonotecas, midiatecas, hemerotecas, iconotecas dentro do iPad. A vida lá
dentro, como outrora fizemos com a parede da caverna, o afresco da
igreja, a tela da TV.
Para só mencionar uma inovação: provas-games. O jogo da
química. O jogo da gramática. O jogo da filosofia. O jogo da física. O
jogo da história. O jogador joga para aprender. Aprendendo, ganha
pontos. E os pontos se traduzirão em prestígio virtual e poder de
criação. Com os pontos adquiridos, o aluno pode criar um perfil
escolar/profissional, seu currículo imediato, em articulação com futuras
vagas em universidades, centros de pesquisa, postos de trabalho. Gabriel Perissé
Artigo publicado na edição de outubro de 2011 da revista Profissão Mestre.
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